Me deparo com frequência com profissionais questionando a prática dos recrutadores de perguntar sobre pretensão salarial, por isso resolvi escrever esse texto para apresentar alguns pontos que raramente surgem nesses momentos e acredito eu, valem a pena serem mencionados.

Um argumento muito usado aqui na rede é que o principal motivo de pedirem que os profissionais informem suas respectivas pretensões salariais é para o “leilão” da vaga, onde quem apresentar a o menor valor será contratado.
Outro ponto levantado com frequência é que o RH não abre o valor que a vaga oferece de propósito, porque caso o profissional informe uma pretensão menor a empresa poderá economizar na sua contratação.
E ainda vi pessoas dizendo que quando isso ocorre é porque a vaga não é real, e a empresa está fazendo apenas uma cotação de mercado para aquela função.
Bem, estou nesse mundo de recrutamento de TI há tempo o suficiente pra entender o porquê dessas ideias e estaria mentindo se dissesse que nunca vi essas coisas acontecerem. Mas também estou a tempo suficiente pra afirmar:
Na maioria das vezes não é isso!
O problema costuma ser outro, e fico surpreso quando vejo profissionais sênior não se atentando a ele, que é simplesmente a gestão dos projetos.
Muitas empresas trabalham com orçamentos anuais para o desenvolvimento de projetos, então no início do projeto os gestores fazem a projeção de todos os gastos que terão com o projeto e como irão utilizar da melhor forma o orçamento que foi disponibilizados pra eles.
Essa conta envolve tudo: infra, licenças, softwares e aplicações no geral, as latinhas de refrigerante do frigobar… tudo! Fazem o planejamento de quantos desenvolvedores vão precisar, quantos QAs, quantos Gerentes de Projetos, quantos Agiles Coachs, enfim… vocês entenderam, certo?!
Mas o que sempre rola em projetos, de curto prazo, de longo prazo, de tempo indeterminado? Bucha! E quando a bucha vem a gestão olha pra Bucha e olha pro caixa…
Nesse momento o que importa é encontrar alguém que possa compor o time, com as qualificações necessárias para o problema não acontecer mais e que caiba dentro do orçamento.
Ah, então se sabe quanto tem no caixa, da pra saber quanto dá pra pagar! Essa desculpa não cola!
Pois é, mas não aparece uma bucha por vez, e nem uma de cada vez. Elas acontecem ao mesmo tempo, em áreas diferentes e de formas diferentes. Por isso é necessário todo um samba para tentar encaixar tudo no lugar.
É aí que eles procuram as consultorias e dizem: Me mandem profissionais nesse perfil e me informem a pretensão salarial deles, pra eu ver como vou me virar aqui.
Óbvio, há um bom senso e uma prática de valores no mercado que dentro dos seus limiares sempre devem ser respeitadas, mas se o valor/hora será de R$X ou R$X+5 ou R$X+10, não sabemos, por isso pedimos a pretensão salarial e não divulgamos um valor junto com o descritivo da vaga.
Cabem muitos apontamentos e sugestões de melhorias nessa dinâmica toda. Concordo! Temos um cultura profissional no Brasil que pode melhorar em muitos aspectos, mas antes de rasgar o trabalho dos recrutadores, entender todo esse contexto se faz necessário. O entendimento do contexto nos ajuda até mesmo a nos colocarmos e transitarmos pelo mercado de um modo mais assertivo, sabendo onde estamos pisando.
Por isso, quando te questionarem sobre pretensão salarial o mais indicado é:
Seja honesto! Diga exatamente o quanto quer ganhar.
Se a vaga é interessante pra você, não deprecie seu valor, para não trabalhar insatisfeito depois e nem jogue ele lá em cima contando com uma depreciação proposital por parte do empregador. Basta dizer: Meu valor é R$X, ou, entre R$X e R$Y dependendo da proposta, e pronto! Tudo seguirá seu fluxo e as coisas acontecerão como devem acontecer.
O gestor quer o profissional, o profissional quer trabalhar e o recrutador está maluco pra fechar essa vaga e cuidar ainda das outras 100 que ele tem pra fechar.
Se organizar direitinho, todo mundo fica feliz!
Lucas Carvalho Coordenador de Recursos Humanos | Business Partner | People Analytics
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