Nas avaliações periódicas, sempre verificamos habilidades de relacionamento interpessoal, mas, às vezes, acho que no dia a dia as empresas não são tão coerentes. Questiono se espera-se que as pessoas se relacionem bem ou apenas que não causem conflitos. Ninguém nas corporações ousa admitir quão complexo é lidar com o humano.
Mais humanidade e empatia, por favor!
Pergunto: se é algo tão simples a interação entre os humanos, o que justificaria a solicitação de gestores para elaboração de treinamentos comportamentais para os liderados? E por falar em líderes, gostaria de ressaltar o quanto se investe em programas de liderança e sucessão.
Sei que muitas corporações são muito maduras acerca de pensar no ser humano, cito o exemplo das que criaram uma política própria de licença paternidade. Sabemos que a herança do modelo patriarcal corporativo valoriza o seguidor de normas, buscamos o perfil inovador, desde que não seja muito. Quando um empregado apresenta uma ideia pioneira será que os gestores são empáticos para ouvir e contribuir ou estão muito ocupados?
Ainda, sobre como as empresas lidam com a humanidade, quando um profissional solicita compensar um dia do seu banco de horas, por que é preciso justificar? Alguém, alguma vez disse: quero tirar minha folga só para ficar incrivelmente à toa? Parece que colocar as prioridades pessoais em equivalência às necessidades corporativas não é algo razoável. Em contrapartida, deixar de levar um filho ao médico em virtude do trabalho é sinônimo de profissionalismo.
Em minha trajetória, ouvi alguns mitos que simbolizam os movimentos contracultura e de falta de humanidade. A rainha de copas é uma personagem do livro “Alice no país das maravilhas”, em uma das empresas que atuei, um líder muito influente ganhou esse apelido. Sempre tinha o “encontrei com a rainha de copas no elevador, e estava com a cara de ‘corta a cabeça, corta a cabeça’”. As pessoas não diziam conscientemente que ele acreditava que causar medo poderia ser algo bom e produtivo, mas pelo apelido evidenciavam isso.
Outra situação, referia-se a uma líder que também era influente com a alta direção. Diziam que essa profissional andava vestida de capeta pelos corredores da empresa por sua tratativa ríspida. Falo desses intragáveis tópicos para questionar: a custo de que esses profissionais se mantêm? Eu diria que do sofrimento do outro. Esses tipos de líderes pouco humanos se perpetuam e, qual pode ser a nova atitude de quem tem possibilidades de apresentar a verdadeira face deles aos tomadores de decisão? Seria possível trazer pessoas que se preocupam com as gerações futuras?
Vivemos um momento de adoecimento psíquico, quantas pessoas sofrem de síndrome de Burnout? Que tipo de de programas criamos para evitar que a depressão seja a principal causa de afastamento? No momento, em nosso país, o suicídio é a segunda maior causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos, o que estamos fazendo para lidar com isso?
Antes de estabelecer os indicadores me preocupei em criar uma meta focada na qualidade de vida das pessoas? Foquei em indicadores de equidade, diversidade, equiparação salarial entre os gêneros? Preocupei com a prevenção e IST’s, violência contra a mulher? Pensei em abordar sobre identidade de gênero, orientação sexual com os empregados? Programei alguma visita em empresas que desenvolveram programas para mitigar agressão contra as mulheres?
Convido você a ser um ser humano e um profissional melhor. E se nas campanhas corporativas você retrata os diversos modelos de famílias? Que tal começar pelas monoparentais e homoparentais? O que acha de parar de trabalhar só com as famílias margarinas? Espero que em 2020 construamos mais espaço para empatia e humanidade.
Se você está em uma empresa que teve passos significativos na direção da humanidade, compartilhe os resultados que alcançaram. Pode ser por aqui ou inbox, sua contribuição fará muito bem à todos(as).
Carla Marques Soares Desenvolvimento da Liderança
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